Uma cerimónia para convidados e a apresentação oficial aconteceu no salão de festas VIP no Morro Bento (18/11) e a sessão de venda e assinatura de autógrafos ocorreu no Largo da Unidade Africana (21/11), no Miramar, próximo do seu eterno Bairro Operário.
Na primeira cerimónia foram vários os convidados ilustres presentes: Dom Filomeno Vieira Dias, Euclides da Lomba (director nacional da Cultura), Carlos Lamartine, Dionísio Rocha, Carlitos Vieira Dias, Massano Júnior, Tony Henriques (um dos pioneiros da bateria na música angolana), Gilberto Júnior, Nguxi dos Santos, Carlos Cunha, além de familiares, amigos e fãs.
O primeiro momento do dia 18 de Novembro foi a apresentação de um pequeno vídeo com uma declamação da cantora brasileira Maria Bethânia, em que aborda a força dos tambores em África e a riqueza que deram aos ritmos da sua diáspora, com uma sequência de temas com a participação de Joãozinho Morgado.
Outro grande momento foi a exibição de excertos do documentário realizado por Nguxi dos Santos, uma produção da Brasom, com depoimentos de colegas e amigos do Bairro Operário, de Jomo Fortunato (autor do livro), Dionísio Rocha, Carlos Lamartine, Gilberto Júnior, Zé Fininho, Mário Fernandes e dos cabo-verdianos Tito Paris e Leonel Almeida. Tem também respigos de uma entrevista de Miguel Neto.
A noite fechou com música ao vivo, com a presença de um conjunto constituído por instrumentistas que ao longo dos anos têm partilhado o palco com Joãozinho Morgado: os veteranos Teddy Nsingui, Raúl Tolingas, Rufino Cipriano e Mias Galhetas, e os mais jovens João Diloba (baterista), Yark Spin (guitarrista) e Bucho (percussionista). Este teve a responsabilidade de tirar das tumbas a sonoridade do Mestre Joãozinho Morgado.
Os mais jovens do conjunto foram a corista Raquel e os integrantes do naipe de sopros. Lito Graça e Cidy Daniel foram as principais vozes num concerto que Teddy Nsingui abriu com o instrumental “Choro da Madrugada”, original de Mário Fernandes dos Negoleiros do Ritmo. Teddy executou os principais sucessos deste conjunto, como “Ai Compadre”, “Lemba” e “Minha Cidade é Limpa”, emocionando dessa maneira o antigo vocalista dos Negoleiros do Ritmo Dionísio Rocha
“I Kua Dila”, “O Manu Ua Fuidi”, “Cantar em Tempo de Liberdade”, “Ki u Kotama u konde”, “Muzangole”, “Kamba Dya”, “Calema”, “Weza”, “Angola Kuia”, “Manuel” e “Declaração de Amor”, sucessos conhecidos nas vozes de Teta Lando, Pedro Romeu, Minguito, Carlos Lamartine, David Zé, Carlos Burity, Sanguito, Filipe Mukenga, Mendes Brothers, Sabú Guimarães e Matias Damásio, foram igualmente executados, de forma a representar o peso de Joãozinho Morgado nos vários momentos e temas da produção musical angolana, onde o expoente máximo da percussão angolana fez toda a diferença.
As novas tendências não ficaram apenas com os temas de Matias Damásio. “Boémia” de Mago de Sousa mostrou que os jovens também têm explorado o talento de Joãozinho Morgado. Ivan Alekxei aproveitou para anunciar que em vários temas do seu próximo trabalho discográfico recorreu a Joãozinho Morgado. Kiaku Kyadaff cantou “Relógio Biológico”, mais uma das muitas participações de Joãozinho Morgado.
Carlitos Vieira Dias não resistiu e subiu ao palco para um grande momento cantando e tocando a guitarra com Joãozinho nos tambores. Cireneu Bastos esteve em palco com “Engraxador” e Raúl Tollingas com a concertina recordou Minguito.
Voto Gonçalves, parceiro do homenageado, com a rouquidão característica da sua voz interpretou “Mona Ki Ngi Xica” e regressou ao tempo da Soul Music, quando, nas lides artísticas luandenses, era o Tony Redding, oferecendo aos ouvidos da plateia “Amém” de Otis Redding.
A presença de Cabo Verde não esteve apenas no alinhamento musical e nos depoimentos. O pianista e produtor Zé Afonso trouxe a Morna e a Coladera em temas como “Mãe Querida”, “Cena de Ciúmes”, “Contratempo” e “Orienta”. Joãozinho foi fundamental para a introdução das congas na música cabo-verdiana, segundo reconhecem alguns dos principais nomes da música daquele país.
Livro-homenagem
“A Mística e o Simbolismo dos Tambores” traça o percurso artístico de Joãozinho Morgado, sendo possível tomar contacto com os depoimentos de Dionísio Rocha, Botto Trindade, Carlos Lamartine, Carlos Timóteo “Calili”, Chico Santos, Miguel Correia, Manú, Dalú Roggé, Bucho e o sobrinho Teles Morgado. O livro coordenado por Jomo Fortunato e editado pela Arte Viva tem a produção da Brasom, de Ilídio Brás, que ao longo de cinco anos empenhou esforços para materializar o projecto.
Joãozinho Morgado, para os amigos o Kabarro, é tratado como o rei dos Tambores e considerado como o homem que marcou o compasso do Semba. Das palmas das suas mãos passaram muitos sucessos da música angolana. Referimo-nos ao Mestre Joãozinho dos Tambores, homem do B.O., que nos últimos anos fixou residência no Prenda. Nasceu no dia 7 de Fevereiro de 1947 e este ano celebrou 74 anos. O artista foi um dos fundadores dos Negoleiros do Ritmo aos 13 anos de idade e esteve na formação dos conjuntos Os Merengues, Banda Madizeza, Banda Welwítschia, Banda Maravilha e teve passagens por várias outras formações e projectos musicais, sendo um dos últimos o Conjunto Angola 70.
Os dotes de Joãozinho Morgado podem ser sentidos em canções como as que foram apresentadas no concerto ou ainda em “Bartolomeu” e “Nzenze”, de Prado Paim, “Kuale Ngo Valolo”, de Carlos Lamartine, temas dos anos 70. Mais tarde, na época do ressurgimento da produção discográfica, em “Kambuila” e “Balabina”, de Filipe Mukenga, “Mucagiami”, “Manazinha” e outros sucessos de Carlos Burity. E também no vibrante “Balumuka”, dos Mendes Brothers.
Jomo Fortunato suscita polémica
Dias depois do lançamento do livro que homenageia Joãozinho dos Tambores, o pesquisador cultural Jomo Fortunato divulgou um áudio onde assume ser o autor do livro e que o mesmo terá sido publicado de forma ilegal.
Ilídio Brás, da Brasom, produtor do projecto, em declarações ao programa Janela Aberta da TPA, afirmou peremptoriamente que o processo de publicação do livro durou mais de cinco anos e reiterou que o livro tem como autor Jomo Fortunato. Aliás, segundo disse, a obra conta igualmente com textos de vários jornalistas. Na ficha técnica consta o nome de Jomo Fortunato como autor do livro, que foi editado pela editora Arte Viva, empresa pertencente ao pesquisador cultural.
Joãozinho Morgado, o homem que está no centro da polémica, diz não temer qualquer processo judicial e neste momento apenas quer agradecer a Ilídio Brás por materializar o livro. Apresentando-se como “um homem de paz”, garante que se abrir a boca a verdade virá ao de cima, mas sublinha que o que quer agora é só viver este momento.